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Não sinto mais a rugosidade do teu peito

que me cala o choro e distrai a fome.

Falta-me o colo e os beijos umbilicais,

até as lágrimas e as rezas deixei de ouvir.

Não sei de ti, entre tantos gritos que se fundem.

Há um colo novo, ávido de vidas, que me acolhe,

como se todas as tuas lágrimas fossem mar,

e nele procuro e não encontro os teus cabelos.

Sobrevivo na ilusão desta falsa boia

que me atiraste em jeito de epifania.

Guardo-a ainda em altar de muitas velas,

 e releio, com as lágrimas que em mim guardaste,

o poema que nela puseste para me maternizar:

“Meu tesouro, meu amor, minha vida,

o novo mundo está quase, a poucas milhas.

Seremos uno no futuro que viverás sem mim,

é no amor que seremos um corpo inteiro.

Engole-me o mar num expiar de mil angústias,

com o desejo incontido de que sobrevivas

para continuares, na tua vida, a nossa eternidade.”

 

Fernando Morgado

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