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A mostrar mensagens de 2016
Olá Dudu. És tão pequenino mas tão grande para tudo o que eu quero guardar em ti. Vais crescer, vais caminhar e, mais que caminhar, vais fazer os teus caminhos. Tantas vezes vais pensar que caminhas sozinho mas, avisadamente, descobrirás que alguns passos teus alguém os deu por ti. Um dia, vês um musgo numa rocha e apressas-te a fotografar; eu já andei nesse caminho.   Entre o nascer e o por do sol, ou entre o nascer e o por da lua, ficarás encantado com as sombras que esses astro produzem ou com as claridades que ambos projectam; eu já tive esses olhares. Não saberás o que é tremer em frente a uma folha A4, na hesitação das palavras que não saem. Já não se usará. Mas saberás teclar e googlar, facebookar e abreviar – pk qq qd tb nd, e mais não sei quê -, e sentirás um jorro de palavras que se agrupam em texto; eu já escrevi esses medos. Hoje, na distância longa dos teus primeiros 123 dias de vida, é mais um dia em que cresces sedimentado no meu ADN. Não te livras
(Este texto lê-se em 5 minutos. Vocês conseguem?) MOSAICOS DA MINHA VIDA – 8 OS MEUS CRAQUES DA BOLA. Isto de parecenças tem muito que se lhe diga. Há quem tenha os olhos do pai, a boca da mãe, os pezinhos iguais à tia mais nova, e as orelhas da bisavó que nunca conhecerá. Questões do ADN, dizem. Comigo nada disso foi diferente. Tenho o meu corpo retalhado em parecenças, bem ao jeito de um mapa morfológico da minha família. Mesmo assim, acho que não sou parecido com ninguém! Mas se podemos ver e confirmar os diferentes aspectos exteriores, já mais difícil se torna perscrutar os recônditos caminhos da alma e seus afilhados: o feitio, os gostos, o carácter, as opções e as decisões.   Tanta lengalenga para me confessar plenamente adnizado pelo meu avô Alexandre no que concerne ao meu clube: portista empedernido. Portista um dia, portista até morrer! O Porto é uma naçom, cara..o! P or esta razão, mais admiro o meu pai – boavisteiro de um só clube – por nunca ter
(este texto demora 4 minutos a ler) MOSAICOS DA MINHA VIDA - 7 Não quero escrever a História de Miragaia, nem contrariar ou acrescentar qualquer coisa que seja à arte dos historiadores convencionais. Devo dizer, contudo, que a génese da História é sempre a versão do vencedor. Por isso, ela é tão relativa. Não é o caso. O meu propósito é criar MOSAICOS – estórias com pessoas dentro – e, com eles, dar maior expressão ao painel de orgulho pela terra onde nasci, vivi e ainda moro: Miragaia. Não tenho acompanhado a vida real do Centro Social de Miragaia nos últimos anos. Parece-me, contudo, que continua a ser uma instituição bem enraizada na freguesia, e a justificar um interesse enorme pelos serviços que põe à disposição dos moradores. Volto a ele; aos princípios do Centro (período que melhor conheço) e aos passos difíceis que foram dados para que se tornasse uma realidade. O governo da época, anterior ao 25 de Abril, era parco em recursos para acções de bene
MOSAICOS DA MINHA VIDA - 6 Não sou envergonhadamente católico. Não sou modernamente anticristo. Digo-me católico, por convicção, sem esperar encontrar Deus na igreja mais próxima, mas antes guardá-lo e cuidá-lo bem, dentro de mim. Há um género de modernismo que faz de nós anormais quando dizemos que somos católicos e acreditamos em Deus. Para alguns, ser católico é ser palerma. Para alguns, ser ateu é ser esclarecido, moderno, intelectualmente superior. É desta gente, os modernos, que aparecem os aflitos, a implorar “valha-me Deus” e “Deus me acuda”. Vem isto a propósito de Miragaia, das suas gentes e da sua igreja. Vem isto a propósito de eu ter sido chamado de “papa-missas” só porque me dava bem com o padre embora fosse refractário à liturgia. Por volta dos meus quinze-dezasseis anos, aparece em Miragaia um padre novo que veio, naquela época, revolucionar a freguesia. Tinha vinte e oito anos, trazia romantismo e ilusão suficientes para julgar que seria um bom pasto
MOSAICOS DA MINHA VIDA – 5 No Porto, quando alguém diz que nasceu ou mora na Rua dos Armazéns, nº 55 casa 26, está a falar de uma “ilha”…e o Porto tem tantas destas ilhas, ainda. Ora, esta morada, acima referida, é exactamente o sítio onde nasci e cresci – na Quinta do Loureiro. Em Miragaia, claro. Pouca gente desta freguesia não saberá onde fica a ilha da Quinta do Loureiro. O que nem tantos saberão é a origem deste nome – Loureiro. Ao longo dos anos, e em pesquisas que faço para as minhas escritas, tenho encontrado as mais diversas versões para este nome, mas a única a que dou credibilidade é à que nasce no Jardineiro-Mor José Marques Loureiro, o “jardineiro das Virtudes” como vulgarmente era conhecido. Este homem, com fama já granjeada na Beira-Alta, veio para o Porto a convite da Câmara da cidade, e deram-lhe a incumbência de criar novos jardins na urbe, melhorar os existentes e fornecer a Câmara e a Corte com as suas belas flores e plantas. Para esse fim, con
MOSAICOS DA MINHA VIDA - 4 O IÓ-IÓ. Quando recordo a minha infância e adolescência, até mesmo a minha juventude, não posso esquecer esta figura típica de Miragaia. O Sr. António, vulgo IÓ-IÓ como todos o conheciam, era um homem só e solitário; não era muito sociável – com poucas razões para isso -, nada dado a conversas ou amizades. Não lhe conheci profissão ou família, idade ou origens. Era um ser bizarro; no aspecto, no semblante, no parco discurso, nos comportamentos, até mesmo na forma como não se dava a conhecer. Penso que, na época, seriam raras as pessoas que sabiam dele mais do que ele deixava saber. Vivia na Rua do Cidral de Baixo, paredes meias com as escadas que liga à Rua dos Armazéns, para onde dava a única janela que o cubículo do Sr. António tinha para o exterior. Percebe-se o (des)conforto que esta casa lhe dava: saia de casa aos primeiros sinais de claridade e logo se dirigia ao posto de abastecimento mais próximo – durante muitos anos, a loja dos meus p
        MOSAICOS DA MINHA VIDA 3 Aquela rusga e a lengalenga eram já tradição nas ruas de Miragaia. O binho é um remédio, Que aliBia e cura as mágoas… Os miúdos em fila indiana, comandados pela etílica batuta do Mário Penca, lá seguiam, talvez mais pela bolacha que o maestro lhes dava do que pelos dotes corais que possuíam, pelo Largo da Praia até ao parque. Dai fletiam para a igreja, depois para a Rua de S. Pedro de Miragaia, Largo da Quinta e terminavam onde começavam, na Rua dos Armazéns à porta da loja dos meus pais. O Mário biscatava uns serviços que lhe eram dados pelo Sr. José Artista ou pelo Sr. Álvaro Rodrigues ou pelo Manuel do Gelo, ou por outro qualquer dono das camionetas que, na época, se perfilavam perto da Alfândega à cata de transportar mercadorias importadas ou para exportação. A Alfândega era um rebuliço de gente e de trabalho. Havia as vagonetas (falarei delas mais tarde), nas quais os miúdos brincavam e se aleixavam. Mais tarde, t
MOSAICOS DA MINHA VIDA - 2 Olhá bófia! O sinal de alarme que sempre surgia quando a miudagem se confrontava num valente e vibrante jogo de futebol. Havia várias equipas, sempre em confronto entre si. Os da quinta, normalmente liderados pelo Joaquim Libório, e dos quais eu era a claque (nunca tive jeito algum para as lides da bola), e onde sobressaiam o Fernando Almeida, o Toninho Dias, o Tibúrcio, o Paulo, o Mau-Mau, o Moreira, o Alírio, o Horácio, o Fernando, o Zé Armindo (meu irmão), o Zézé, e todos os outros que desculpo à memória já gasta. Havia a equipa da Praia, com craques como o João Almeida, o Manuel Pereira e o irmão, o Rui, o Camilo, o Tena, o Matateu, o Aristides e o irmão, e tantos outros. Outra equipa de respeito era a do parque, com vedetas como o Toninho, o Casimiro, o Meira, o Quim, o Constantino, etc. Havia as equipas da Conquistadora, de Monchique (o Jorge e o Marcílio e o resto da pandilha), do Largo da Alfândega; e jogadores dispersos pelo Padre Américo,
MOSAICOS DA MINHA VIDA - MIRAGAIA   Nascer e crescer em Miragaia foi um privilégio que tive e fiz por merecer.   Era um tempo, meados dos anos 50, de grande miséria; o álcool, a violência doméstica, as cheias do Douro, o excesso de filhos (o excesso de abortos, também), os estigmas de quem nos catalogava (os mesmos que, durante as cheias, nos fotografavam), as casas subalugadas, os quartos para todos, incluindo os pais, as sanitas colectivas – banhos só mesmo no balneário do Largo do Viriato -, os couratos e torresmos para disfarçar a fome: tantos mosaicos de vida eu posso relatar sobre o “condomínio fechado” onde nasci. Sim, condomínio fechado: só cá entrava quem de cá era!   Hoje, Miragaia é uma terra de pouca gente. Muitas casas abandonadas e em ruinas, ruas desertas, onde pululavam crianças e adolescentes em brincadeiras de rua – o arco, a patela, o pião, as cordas, a bola (muda aos seis acaba aos 12), as escondidas, as malhas para os adultos), eu sei lá que mais, tanta
MOSAICOS DA MINHA VIDA - MIRAGAIA   Nascer e crescer em Miragaia foi um privilégio que tive e fiz por merecer.   Era um tempo, meados dos anos 50, de grande miséria; o álcool, a violência doméstica, as cheias do Douro, o excesso de filhos (o excesso de abortos, também), os estigmas de quem nos catalogava (os mesmos que, durante as cheias, nos fotografavam), as casas subalugadas, os quartos para todos, incluindo os pais, as sanitas colectivas – banhos só mesmo no balneário do Largo do Viriato -, os couratos e torresmos para disfarçar a fome: tantos mosaicos de vida eu posso relatar sobre o “condomínio fechado” onde nasci. Sim, condomínio fechado: só cá entrava quem de cá era!   Hoje, Miragaia é uma terra de pouca gente. Muitas casas abandonadas e em ruinas, ruas desertas, onde pululavam crianças e adolescentes em brincadeiras de rua – o arco, a patela, o pião, as cordas, a bola (muda aos seis acaba aos 12), as escondidas, as malhas para os adultos), eu sei lá que mais, tanta
CAMPEONATO NACIONAL DE ESCRITA - PEDRO CHAGAS FREITAS 1ª JORNADA Quando chegaste, olhei discretamente o teu sorriso e senti, naquele momento, que nunca mais seria um homem livre. Acho que te lembras da cadeira que te cedi para te juntares aos teus amigos, em mesa larga, na esplanada do Alex. O sol despedia-se, em reflexo quente, aceitando as preces das gaivotas em bando. Chegaste como todos os dias daquele Setembro quente: fui colecionando os teus movimentos, as tuas expressões, as tuas roupas quase não-roupas, os teus cabelos nas diferentes nuances que o sol compunha: tornei-me antropólogo de ti.     Soltei a vontade de te ver de novo, no dia seguinte ao nosso primeiro “encontro”; e no dia seguinte ao segundo, e no dia seguinte ao enésimo em que te espero. Algumas vezes, num recurso de memória, regressas a mim no olhar que cruzamos. Repetes o mesmo sorriso e eu reforço a esperança de me prender em ti. Sim, a esperança de passar de não-livre a habitante do teu olha