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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2015
    O nosso monte. Já noite, numa lua de inverno – contudo crescente -, a chuva deu-se ao nosso aconchego. Quiseste mostrar-me o “tal” sítio muito bonito. Em ti, nada é uma promessa. O Porto ao longe, numa profusão de luz e encanto, em contraste com a quietude que cercava o meu carro - bancos versáteis. Um monte só nosso. Valquíria dos sonhos que são para viver: foram tantos aqueles que sobreviveram em nós. Contigo, nada é quase ou metade – só pode ser tudo. Um beijo, repetido mil vezes (ou mais?); saltitantes no teu corpo: todo. Senti-me em desapertos, quase tanto como a tua blusa, já de casas vazias, de onde saltavam uns bicos grossos e loucos – loucos de ti, na minha loucura!           Não pares, deixa-me conduzir-te.           Em ti sou tudo. Não me lembro como ficaste em coxas: a saia levou a cueca, ou vice-versa. Não importa! Estávamos só nós, cobertos no embaciamento que nos escondia. Lembras-te do frenesim de lábios que t
    PARIS (o nosso amor) Chega o momento de uma alegria descrente. Marta e Ruben reinscrevem-se. - Acreditas nos sonhos? - Amo-te! - Segreda-me um de nós! Passeamos em Paris, vestidos em neblina doce – des chansons et des crepes -: sim, o amor não faz dieta. Os bateaux mouches, coniventes de tantas promessas, num festim de pontes e de palácios, mostram-nos a fálica torre que tantos veneram: Eiffel a homenagear Balzac, Maupassant, mesmo Henry Miller – ainda o cancêr lembrava escaldante trópico -; eram tantos os momentos ditos balzaquianos. O Palace Hotel, horário livre para celebrações, foi, naquela noite, igual à manhã que em orgasmos nós prolongamos. Passeamos em nós, na gulodice das ostras que nos provocavam. Lembras-te da maçã vermelha – já dentada – que quis partilhar contigo? “As maçãs azuis.” - Falaste-me do livro que estavas a ler: em amor. Beijei-te na tua quase dentada, a dentada que seria a senha. Não mordeste o isco. “Surpreende-me - faz-m
    A PELE Sai da estação de S. Bento e atravessei para as Cardosas: o Astória leva-me até ao passado; o Intercontinental mostra-me a opulência. Como está lindo este quarteirão! A cara lavada e a pele rejuvenescida. Pele? Claro, porque não! Tudo o que vimos é pele; tudo o que tocamos é pele. É pela   pele que acudimos os nossos prazeres. Lembro-me da Nidia, cabeleireira no Brasília, quando um dia lhe pedi para tomar um cimbalino comigo. Ela, mais vermelha que os cromos que punha nos cabelos - nem-sei-que-diga - curiosa: Onde? - Eu sirvo-lho na mesa de cabeceira! Que querida, passou a vermelho húmido. A sua pele já não tinha ouvidos – afogava-se em impulsos. Já na Rotunda, apetecia-me voltar para trás, arrebatá-la à bata e à mola do cabelo e, ala, até à praia de Leça. Enfim, sem calma nenhuma, tive que optar: para o Bom Sucesso, ou para A Casa da Música. A música, então, era outra. Petisquei um rissol e uma lambreta, no mercado. Plim-plimpimpim-plim : sms “Quan
      Disse-lhe o nome e manteve a atenção no JN. A notícia era um choque e um alarme para ele. Estava ali tudo: a sua vida, o seu passado recente, a última das “paixões” que, amiúde, o arrebatavam. - Trago a canela? – Não respondeu. Todos os dias, à mesma hora, passava no “Progresso” para o café de saco e a nata acabadinha de sair: o jornal era, também, imprescindível. Lesya estava no seu primeiro mês de trabalho e mal o conhecia. Não era única: naquela casa só lhe conheciam a cara e a sua sisudez impenetrável. Nunca lhe vira amigos de mesa, embora o café mantivesse duas tertúlias que animavam a sala com a escalpelização de tudo o que desse falatório. Naquele dia, era aquela detenção que ruborescia os comentários. “DETIDO Director Nacional do SEF”. Deteve-se também neste título, ainda sem forças para abrir o jornal e ler a notícia toda. Não conseguiu calar a preocupação com Jamelia, a “escultura” nigeria que era a sua actual “boneca”. Não lhe “cabia um feij
Subiu as escadas e quase desmaiou com o estridente barulho no andar de baixo. Soraya era a única companhia do poeta naquela mansão enorme, agora quase abandonada, que já pululou de gente durante décadas. Alves Fedelhas herdou do pai a sensibilidade, a delicadeza, o gosto pela escrita e… a casa. Sempre jurou que só a morte o levaria para fora daquele palácio. Era homem de convicções e de valores. A jovem foi recrutada à porta de casa quando, por leveza do destino, ali foi entregar uns cadernos A4 que o poeta gostava de ter sempre em reserva, não fosse a sua escrita ficar sem material. Fogosa na aparência, doce no jeito de falar - sotaque gerundivo e carioca - e disponível para “toda a obra” que o Dr. Fedelhas dela requeresse - os seus 85 anos justificavam muitos cuidados. Tudo corria perigosamente bem: a harmonia entre eles era “perfeita”– a jovem tinha jeito -; a poesia brotava mais sensual e atrevida com a inspiração que a “quirida” lhe despertava – Soraya

No teu caminho

São duras as pedras da calçada que se descalçam para me sentir. Nelas, marco o teu caminho e a minha pressa. As tílias e as faias, que me seguem em sorrisos, conheço-as bem. Em qualquer delas, por uma vez de muitas, te escondeste de mim. Sorris do meu desnorte, da minha ansiedade em te encontrar. Árvores miliárias que me orientam, como estrela que me leva ao meu amor. Nesta geira trota passos, faço-me insano e profano. Sou o brilho que deixarei nas tuas mãos. Tenho o corpo cansado e molhado, e uma segunda pele que te reclama. Em cetim desabotoado, sonho-te princesa – quero-te mulher. Apresso os meus pés para acariciar e beijar os teus. Afasto folhas ainda em queda, faço delas o meu tapete. Vou ao encontro dos teus braços, quero-os inteiros – prenhes de amor – para nos abraçarmos. E as tuas mãos…as tuas mãos, sedosas e doces, quero-as, também, em compromisso. A beleza de um brilho anelado que te convida. Quero a tua eternidade. Qu