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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2016
                            Farejo a vida na marcação dos meus amores, com o sentimento de caminho curto que percorri entre o delito e o prazer. Ficaram beijos e abraços por dar, e desejos por viver. Soletro, um a um, os meus pecados, não cumpridos, em catação de tantos sonhos ainda futuros, como se não houvesse o tempo a desproteger. Saboreio “la belle époque” dos encantos que construi em tons, longos e largos, de abraço e mel, no crepitar intenso dos versos que escrevi, e com eles sonhos dei e recebi. Desvisto as personagens que encarnei, deuses e demónios, em brado e desassossego, e fico com a nudez dos pecados não-culpados. Hoje, vivo os rumores que a minha cegueira antecipa. Subtraio prazos e normalidades delirantes. Não espero glória ou comendadoria: vistam-me nu. Os meus versos serão a minha eternidade: os meus amantes.   Fernando Morgado
Hoje, quando as gaivotas voltarem, Estarei com elas nesta areia morna que o sol deixa. ... Espero-te, sempre aqui, conto-te em ondas. Tantos abraços para te dar, o meu corpo quer. Sinto-te na maresia que a minha boca beija. Saberei de ti quando as gaivotas voarem. Podes ficar, o teu corpo quer. Fernando Morgado
            Claro que fica entre nós. Não me revejo no teu julgamento em praça pública. Agradeço-te eternamente. Preciso mesmo de alguém como tu para mitigar este meu receio. Confrontei-me estes anos todos com esse estigma. É uma ferida aberta, em crosta de medo. Podes confiar, e continuar a contar comigo para desabafares. Todos temos os nossos problemas… Sempre que o fiz, foi em voo de rapina, ao som de uma canção de amor. Por isso, nunca quis mais que um aluno ao mesmo tempo. O beijo! Eu sei…também eu gosto de os roubar, sem fazer vitimas. Nunca o fiz em confronto, menos ainda em sofrimento. A beleza dos lábios – inocência e descuido - deixa-me sem equilíbrio, sem probidade. O que mais impressiona no teu desabafo é a frieza com que o dizes; o princípio e o fim em que o beijo é o que menos conta. Também fui cobaia. Sabes lá o que é ter a mão ainda pequena para o prazer alheio! E… Sim, a mão e o corpo; as noites e os dias; a boca e o cheir
A camisa bordeaux e a gravata amarela; os sapatos que levei ao casamento do Miguel; o fato é o único que tenho e que me levará para Agramonte. Olho mais uma vez o espelho – gosto de me ver Fred Áster -, e saio para a rua. Desço a rua do Souto, atravesso Mouzinho da Silveira e vou a caminho da feira dos pássaros. Mas… É a catarina que vejo, todos os domingos, à porta da Adega do Olho, na rua mais pequena do mundo. Era uma mulher de garra, mas de muita ternura. Gostava de sentir o seu sorriso, servido em rosto lavrado pela beleza; sentir o cheiro a anis e vermout que a aquecia nas manhãs molhadas de Inverno duro. Catarina era mulher de “asneiras”; empatia brejeira, palavrão desbragado. “Faz-me sentir mulher!”, estas palavras, deixadas por ela no meu desassossego, são a mola de muitas memórias. Nunca soube o que a fiz sentir, mas sempre gostei de sentir a sua loucura – non stop -, de sentir a sua pele diabolizada pelos nossos suores, de sentir a juventude do seu ventre em to
Olá Miguel. Eramos ainda pequeninos, eu nos meus inocentes 10 anos e tu acabado de nascer, quando nos conhecemos. O meu orgulho em poder ajudar os meus pais com os 180$00 que todos os meses lhes levava, era igual ao orgulho do teu pai em ti. Eras um menino lindíssimo: cada peça de roupa que usavas era mais cara que o meu ordenado. Envaidecia-me com as roupas que já tinham agasalhado os meus irmãos – a minha mãe dizia que eu era muito bonito: como tu! Crescemos tanto, Miguel: tu, nos estudos; eu, no trabalho. Vi-te no cortejo da Queima e até me emocionei: temos Doutor, patrão! O teu pai não segurava a emoção de ter um filho tão inteligente! Viste-me passar de grumete a 1º escriturário, e hoje, em fim de caminho, sou excedentário: a nobreza da nomenclatura. A ti, que nunca deste proveito ao “canudo”, vi-te nas ondas e nos ralis; nos odres e nos casamentos desfeitos: hoje, e ainda, és o meu patrão! Que saudade do teu pai! A vida já não é o que era: sacrifícios par