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A mostrar mensagens de 2020
Ninguém gosta de morrer. Mas morrer às mãos de um traiçoeiro silencioso, de um cobarde que se esconde, é uma morte maior, uma morte com mais dor. Enfim, morrer assim é pior que morrer. Onde estão as mãos que abraçavam as minhas, para onde foram os beijos que nos aproximavam e davam ternura, onde se esconderam os abraços que me davam força? Dói! Uma dor que se esconde solitária, uma febre que tudo queima, um ar que teima em não entrar, que se perde sem proveito. E eu respiro, enquanto os números me sufocam. Preciso de ar para fazer voar o meu grito, preciso de vento para me devolver o eco, preciso de vozes, de corpos, preciso de mim e não sei onde estou. Pensava que o único vírus invencível era o amor…mas, afinal, é isso! Não matemos o vírus do amor, só ele nos pode salvar!   Fernando Morgado
  Nos meus olhos um bailado de almas em resgate de amor. Quero-te à minha beira: dançamos! Penso e ouço, um coro de choros, sem idade, fala-me da dor que encapa a esperança. Quero-te no meu pensamento: sonhamos! Há um longe-perto de ti que me inquieta os sentidos. Quero-te na pele dos meus mimos: desejamos! Na multidão que marcha, sorrisos ganapos não sabem de nada. No meu suspiro, ouço a tua presença. Andarilha em mim: quero-te! Arames e muros, rasteiras e bastões, somos migrantes em nós – também eu. Quero-te no meu caminho: amamos! Desligo o aparelho, as imagens não se apagam. Continuamos, os dois! Dá-me a tua mão: ficamos!   Fernando Morgado
  Era Agosto, meu amor, e tu sabias que eu partia Em fogueira de promessas e de ilusões Como se o mundo nos abandonasse num vulcão E nos olhássemos em redutora combustão. Era Agosto, meu amor, e tu não querias Que a esperança te fugisse por entre as mãos Como quimera de sonhos já iniciados Criando um deserto na felicidade que nos demos.   Era Setembro, meu amor, e o vento nada trazia Deixando-me em dor e amargura Aos dias pequenos maior noite sucedia No silêncio dos porquês, farejava-me a loucura.   Era Setembro, meu amor, e só o mar como companhia Nem as lágrimas nem as ondas lavavam o teu desespero. Ali, naquela praia que esperava o nosso amor, tu pressentias em miragem o meu corpo.   É Outubro, meu amor, e tu sorris Na alegria dos nossos beijos recuperados.   É Outubro, queríamo-nos tanto, meu amor! É tempo de regresso… e havia que destronar a dor.       Fernando Morgado
  Façam com as palavras aquilo que quiserem, desfaçam-nas:   Ouçam-lhes o sorriso e a fragrância…   Bate a chuva incessante e o vento sussurra na minha janela, ouço a informação, tempestade no mar e o Celsius a descer… As folhas, açoitadas, procuram fugir de tamanha tormenta.   Que mulher aquela que, em blusa de linho, sobe a minha viela!   É em pele de galinha que ela me traz oásica ilusão, cuidado com a lareira, pode incendiar, diz a informação.   E a mulher descalça gargalha o seu olhar na minha inquietação.   Dá o cabelo ao vento para que ele os leve em onda tremente, e em refulgentes caracóis esconde a beleza na cabra-cega do meu olhar   Pára de repente, a chuva inclemente, os seus braços abertos, procura um abraço, e eu o que faço neste lugar de conforto? Impávido às labaredas que me consomem o corpo e o senso!   Já não a vejo, levou-a o vento ou a minha cegueira, estonteia-me a loucura de a ter aqui, à minha beira, náufrago do meu
  Provoco a morte em cada arrojo da alma Procuro o nirvana de todos os prazeres Piso caminhos venosos e incontornáveis Para remendar normalidades rasgadas Platão é testemunha destes meus passos. Partilho com ele o olho da alma Por saber que o amor é isento de matéria. Pode até ser corpo ausente. Pitágoras não será o meu teorema, Por mais que justifique todos os meus ângulos, Plenos de curvas em dissentimento, e Prejuízo alegórico de juízos militantes.   Procuro o amor em cada suspiro, Padeço de insónias e outras maleitas. Palhaço em enfeite de turvas desgraças, Pábulo de bocas que vomitam mentiras.   Procuro o amor em cada incerteza, Papiro de promessas e doces enganos.   Pilatos não saberá das minhas loucuras.   Possa eu ser Proteu das minhas conquistas.   Fernando Morgado
  Sente uma orquestra de gritos dentro do peito. Tremem-lhe os lábios em explosão de beijos. Rasgam-se os poros em pele de urgências. Inquieta-a o medo de nada ser igual. Será angústia? A paixão é!   Corre apressada Maria num trilho de sonhos. Deixa que o vento lhe leve alguns suspiros. Fica-lhe justo o tecidos dos seus anseios. Aperta os braços em corpo de incertezas. Será esperança? O amor é!   Fecha os olhos numa insistência de espelhos. Ajeita as melenas e perfuma os abraços. Corre-se em dedos numa premonição de prazeres. Antecipa os humores, endurecem-lhe os peitos. Será vontade? O desejo é!   É em pedras corridas na calçada dos afetos Que se dá à ilusão e ao encantamento. Sente-se em searas de girassóis e alfazema Sem continência de sonhos e de saberes. Será ilusão? O poeta é!   Fernando Morgado
  Ser poeta é dar sorrisos às lágrimas, Sentir o rasto delas nas emoções, Dizer de si o que a ilusão promete, Absorver a fragância dos sonhos E esperar que um abraço o aquiete.   Ser poeta é condição maior, até suprema, Entre pés de barro e marionetes de cristal, Vento fresco nas tormentas de Agosto, Malmequer num mar de incertezas E saber que o paraíso mora num poema   Ser poeta é ser rei do nada em campo de papoilas, Bordador de palavras e contador de medos, Alquimista de fogos-fátuos e de impossíveis, Pateta feliz num mundo de tanta dor, E fazer de um verso um acto de amor.   Ser poeta é desordem e desobediência, até pecado. É semear beleza no caos da normalidade, Colher sorrisos em beijos que enlouquecem, Sorver todos os humores então sonhados E querer, em cada momento, a eternidade.     Fernando Morgado
  Neste traço de avião em que te vejo, Acompanham-te os meus sonhos já cadáveres. Ficou a poeira dos abraços que não demos E o aroma dos beijos que evitamos. Um gin tónico, e um sol que se anoita… BB King faz as exéquias desta despedida “Rock me baby, rock me all night long”, E sinto-te ao quebrar das ondas nos meus olhos. Estou aqui, onde tantas promessas entreolhamos, Com sabor a insanas e patetas covardias.   Rasga-me o silêncio a desordem das gaivinas em retorno. Resgato a primeira para teu nome, que não sei… Cecile, chamo-te assim porque gosto. Outro gin, uma lua que se instala em maré cheia, E uma guitarra que me abraça nos seus acordes “You don’t know how it makes me feel”. Nada nos pedimos, nada nos demos, tudo quisemos! Partiste, neste traço de avião que já não vejo. Resta-me a recordação para ocupar a tua ausência, E fica pouco do que nunca existiu.   Fernando Morgado
  Não sinto mais a rugosidade do teu peito que me cala o choro e distrai a fome. Falta-me o colo e os beijos umbilicais, até as lágrimas e as rezas deixei de ouvir. Não sei de ti, entre tantos gritos que se fundem. Há um colo novo, ávido de vidas, que me acolhe, como se todas as tuas lágrimas fossem mar, e nele procuro e não encontro os teus cabelos. Sobrevivo na ilusão desta falsa boia que me atiraste em jeito de epifania. Guardo-a ainda em altar de muitas velas,   e releio, com as lágrimas que em mim guardaste, o poema que nela puseste para me maternizar: “Meu tesouro, meu amor, minha vida, o novo mundo está quase, a poucas milhas. Seremos uno no futuro que viverás sem mim, é no amor que seremos um corpo inteiro. Engole-me o mar num expiar de mil angústias, com o desejo incontido de que sobrevivas para continuares, na tua vida, a nossa eternidade.”   Fernando Morgado
  Era o medo o que nos vinha acariciar, e em pano de suspiros abraçávamos sorrisos. Era o e depois que nos fundia em suores, em cuidados esquecidos nos incomodávamos. Das manhãs de primavera fazíamos tardes de outono, atapetávamos de cheiros os nossos olhares beijados, fizemos da paixão a véspera de um grande amor.   Era o medo o que nos vinha confirmar, E em pano de beijos jurávamos futuros. Desenhávamos Abril em desejos de Natal e deixávamos que os lábios nos desordenassem. Trocamos o primeiro beijo das nossas vidas como se os nossos corpos se ressuscitassem, e em cada recobro éramos iniciação.   Era o medo o que nos vinha juntar, e em pano de mar navegávamos destinos, éramos a proa e a ré em vela trôpega. Cruzávamos horizontes em loucas conquistas, para que os impossíveis fossem os nossos cais.   Era o medo o que nos apaixonava.     Fernando Morgado
  Começo contigo, sem medo, esta caminhada nos sonhos que partilhamos. Partimos à procura dos medos para os vencer. Somos Quixotes das poeiras alheias e das sombras que teimamos enfrentar. Nas margens do erro, enterramos as regras e os estigmas, e fazemos do amor a fonte onde nos dessedentamos. Eros e Vénus, aprendizes de nós, soletram espanto da ternura e desejo, da paz e pulsão com que nos abraçamos. Somos deuses e fé nos caminhos que vamos somando, plenos de ameaças e desdéns, na contramão da nossa força. É a determinação que nos leva, é a vontade que nos calça. No cantil, que desarrolhamos com beijos, guardamos luz; dela precisados sempre que uma ruga nos enfeita o rosto. Meu amor, estas pedras que nos calejam e nos confortam, são as mesmas que juntaremos em paredes firmes, para nos abrigarmos e protegermos dos ventos sépios, das tempestades bojadoras e das noites medonhas. Meu amor, semearemos sorrisos e colheremos beijos, e nunca nos contentaremo
  Dar-me-ei no silêncio do meu grito: ouve! Guardo nele as palavras que nunca te direi. Tu és o meu caminho e a minha eternidade. Dar-me-ei, íntegro, em cada sorriso teu. Tu serás sempre a expressão do meu sonho, a força da minha crença, do meu querer. Só se for para ser eterno é que vale a pena viver. Dar-me-ei no sussurro doce e terno que não vês. Estarei, distinto, entre tantas vozes que te adoram. Guardo, em prece, os mimos que não te posso dar e todas as brincadeiras que ficarão por brincar. Estarei nas tuas dúvidas quando te negarem que existo. Saberás de mim sempre que te proibirem de me ver. Não nasceste proibido; proibir não é viver! Ouve! Talvez um dia o meu eco te responda. Estarei no teu corpo, no teu sangue que também é meu. Um dia saberás que somos, ou que fomos, contemporâneos. Cobrirão de noite a minha integridade, o meu merecimento, mas nunca calarão o meu mais puro sentimento. Ouve o silêncio do meu grito: só tenho amor para te da
  Na sombra do teu sorriso nomeei-te nativa dos meus sonhos. Noivamos em noite de paraíso, no crepitar serenos dos nossos corpos. Neptuno e Nereu uniram-se por nós, norteando marés de prata no silêncio de vozes beijadas. Negro mar que nos acoita ao luar, na ilusão do nirvana que procuramos. Navegamos na asa do albatroz, neste sonho nativo do teu sorriso, neste sorriso nativo do meu sonho. Nitente olhar que me enfeitiça, néctar de amor em vulcão, no teu rosto aporto-me em paz, nos teus braços partilho futuro. Nascem auroras de paixão no cupez do nosso manto. Neste mar de fogo, em que navegamos, Nomeio-te nativa do meu amor.   Fernando Morgado
  Foi num verão de inverno que te aceitei. Sei que ainda te ris da minha inocência. Dei-me chão ao arrojo da tua irreverência. Eramos novos, com certezas mal testadas, e sentimos, então, que nascemos para nós. Meu amigo tonto, meu amor, somos o nosso caminho. Contínuo em desassossego com este teu riso; intervalas, assim, os teus beijos dos teus abraços. Somos felizes, meu gémeo velho! Gosto das tuas rugas; também eu enruguei no teu carinho. Hoje somos a primavera do nosso Outono, florimos entre as folhas que teimam em cair. Parece-nos tão longe a partida que não queremos. Em comunhão, escrevemos o nosso livro: memórias. Em ilusão, semeamos as nossas árvores: marcas. Em paixão, construímos descendência: eternidade. Continuamos apaixonados por nós, somos felizes.   Repete de novo tudo aquilo que me prometeste. Ah! Ah! Ah! claro que sim: também te prometi de mim. És tão bonito, meu gémeo velho!   Fernando Morgado
Ouço os teus passos trôpegos que correm para me abraçar. Vens na demência da morte que nunca soubeste entender. Mas sabes – tu sabes! – que, entre nós, nada vai acabar; nem as lágrimas nem a terra farão este amor morrer. Serás sempre o meu amor, a minha infinita eternidade, nos sorrisos e nos afectos, nos desejos e nos sentimentos. Dos teus sonhos farei berço e caminho para a minha ubiquidade, continuarei a partilhar as tuas dores e os teus bons adventos. Chamam-te senhor, até doutor, para mim, doutor menino. Tu sabes do orgulho imenso que tenho em ser a tua avó; a avó de um homem já tão crescido, para mim sempre pequenino. És o meu brilho; eu serei a tua estrela, para que nunca te sintas só. Saberás de mim no inquieto arfar do teu peito e nos teus suspiros. Farei da tua memória o útero para os meus beijos, e deles faremos caminhos novos para os teus desejos. Tantas histórias escrevi e te contei: serão, para sempre, os teus papiros. Hoje - ainda os olhos
  Voamos no éter dos nossos passos Entre a glória e a liberdade dos sonhos. Inventamos asas para elevar o caminho que nos levará ao infinito dos impossíveis. Dançamos a rêverie dos génios como se fossemos loucos. E somos! Um pas-de-deux em piruetas e arabescos dá-nos a beleza dos passos incertos que resgatamos da inocência. Somos Criador e Criatura do nosso tempo. Dançamos felizes este allegro alongado, somos audazes na esperança. Ali, onde os aplausos trágicos esperam a nossa queda, seguiremos firmes nos andamentos temerários que ousamos arriscar. Neste palco etéreo, somos actores da nossa ambição. Serve-nos a leveza dos corpos e a paixão que nos prende para volvermos ao palco. Cabriola em diagonal ou pas de valse, tanto faz seguiremos de face para o júbilo. Calem a tragédia que o amor venceu!   Fernando Morgado
  Acordo já montado no mesmo tempo, neste tempo em que, para tanto, já não há tempo. Deslavo-me na mixórdia de afazeres, sem cuidar os sorrisos e os prazeres. Sou a angústia dos dias compridos e das noites esquivas. Sou rico. Não sou livre!   Antes que a morte me salve do incumprimento, salvo-me eu, em resgate imprudente. Monto a vida em galope sôfrego. Rasgo o protocolo, a regra e o bem parecer, sobrevivo entre mil dedos em riste. Liberto a voz e pensamento contra o juízo inclemente. Não ouço aplausos. Sou livre!   Há uma corrente de sonhos que me leva Para lá da fresca aurora em que desperto. Este mar, que em corpo beijo, é a estrada que me chama em céu aberto. Ah, as gaivotas e o vento, o amor e o desejo! Ah, o tempo novo, a alegria e a felicidade! Ouso amar. Sou livre!   Fernando Morgado
  Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões Abro-te a alma e os sonhos que guardo no veludo das emoções, Pouco me importa que destino levamos, enlaçados os dois.   Como gaivota em desnorte perdida na sua emoção, Dou-me ao teu jogo incerto, como juízo em contramão. Pouco me importa as vozes que dizem e as que se calam, surdos os dois.   Corremos em submerso de peles, no arrepio do desejo. Selamos a incoerência incoerente num infinito beijo. Pouco me importa o estigma do pudor, antiéticos os dois.   Somos corpo e éter, pássaros de água e fogo ao luar Caminheiros de horizontes invisíveis para alcançar Pouco me importa o medo e a fome, esfomeados os dois.   Montamos os ventos e os fenos, arquétipos errantes. Travestimos gineceu e androceu como coloridos amantes. Pouco me importa o jugo alheio e cego, apaixonados os dois.   Queremos os impossíveis a que só o amor nos pode levar Queremos o invisível que só o amor nos pode mostrar Po
  Sei bem o que não tenho porque não quero. Sou hospedeiro de sonhos ainda queridos. Repiso caminhos velhos com passos velhos. Vagueio as paisagens que conheço, em busca de caminhos novos, com passos vivos. Não me reprimo, mesmo quando me dou conselhos. Tudo o que quero é viver!   Refaço, e renovo, a militância de futuro, e busco gente - gente que me dê amanhãs. Repenico gargalhadas, como gritos mensageiros de alegria. Vivo as sobrevivências que a vida me deu. Preciso de tempo para me cumprir. Tudo o que quero é viver!   Antes que a morte chegue, tenho beijos e abraços para dar. Prometo aos sonhos novos destinos. Rasgo cortinas bruxas e precoces. Sei bem o que tenho e o que posso, e mesmo que não tenha tudo o que quero, tudo o que quero é viver!   Fernando Morgado
Farejo a vida na marcação dos meus amores, com o sentimento de caminho curto que percorri entre o delito e o prazer. Ficaram beijos e abraços por dar, e desejos por viver.   Soletro, um a um, os meus pecados, não cumpridos, em catação de tantos sonhos ainda futuros, como se não houvesse o tempo a desproteger.   Saboreio “la belle époque” dos encantos que construi em tons, longos e largos, de abraço e mel, no crepitar intenso dos versos que escrevi, e com eles sonhos dei e recebi.   Desvisto as personagens que encarnei, deuses e demónios, em brado e desassossego, e fico com a nudez dos pecados não-culpados.   Hoje, vivo os rumores que a minha cegueira antecipa. Subtraio prazos e normalidades delirantes. Não espero glória ou comendadoria: vistam-me nu. Os meus versos serão a minha eternidade: os meus amantes.     Fernando Morgado