Avançar para o conteúdo principal

 
 
PARIS (o nosso amor)
Chega o momento de uma alegria descrente. Marta e Ruben reinscrevem-se.
- Acreditas nos sonhos?
- Amo-te!
- Segreda-me um de nós!
Passeamos em Paris, vestidos em neblina doce – des chansons et des crepes -: sim, o amor não faz dieta.
Os bateaux mouches, coniventes de tantas promessas, num festim de pontes e de palácios, mostram-nos a fálica torre que tantos veneram: Eiffel a homenagear Balzac, Maupassant, mesmo Henry Miller – ainda o cancêr lembrava escaldante trópico -; eram tantos os momentos ditos balzaquianos.
O Palace Hotel, horário livre para celebrações, foi, naquela noite, igual à manhã que em orgasmos nós prolongamos.
Passeamos em nós, na gulodice das ostras que nos provocavam. Lembras-te da maçã vermelha – já dentada – que quis partilhar contigo? “As maçãs azuis.” - Falaste-me do livro que estavas a ler: em amor. Beijei-te na tua quase dentada, a dentada que seria a senha. Não mordeste o isco.
“Surpreende-me - faz-me physalis na tua boca.” - desabruxadora.
Frutos que não passam da língua - nela explodem em sumo. São para saborear. Oferecem-se  nus, dão-nos véus para desfolhar. Delíquio, pasmo, êxtase, espasmo: desfaz-se na boca em crepe de orgasmo.
Deixamos o Quartier Latin – vadiamos.
Ousamos Pigalle: proxenetas e prostitutas; fantasias; exóticas frutas; cabines e cabarets – paramos em Montmartre, na Place do Tertre. Tu e os pintores: pediste-me um casaco de raposa.
Dançamos Edith Piaf, beijamo-nos em Toulouse-Lautrec. “La vie est belle.”
Levei-te em braços até ao Metro: moldaste-me na plasticidade do teu corpo; na excitação do teu desassossego. Escondemo-nos em nós.
Apressei-me, tesão que não espera, na rapidez do orgasmo.
Acordei na humidade do meu sonho.
Lembras-te, amor – grande data -, o que anunciavam as sex-shops da boulevard? É hoje!!!
          ***Dia Mundial do Orgasmo – 31 de Julho***

Festejamos Paris. O amor virá depois.
 
Fernando Morgado

Comentários

Mensagens populares deste blogue

  Nos meus olhos um bailado de almas em resgate de amor. Quero-te à minha beira: dançamos! Penso e ouço, um coro de choros, sem idade, fala-me da dor que encapa a esperança. Quero-te no meu pensamento: sonhamos! Há um longe-perto de ti que me inquieta os sentidos. Quero-te na pele dos meus mimos: desejamos! Na multidão que marcha, sorrisos ganapos não sabem de nada. No meu suspiro, ouço a tua presença. Andarilha em mim: quero-te! Arames e muros, rasteiras e bastões, somos migrantes em nós – também eu. Quero-te no meu caminho: amamos! Desligo o aparelho, as imagens não se apagam. Continuamos, os dois! Dá-me a tua mão: ficamos!   Fernando Morgado
MOSAICOS DA MINHA VIDA – 5 No Porto, quando alguém diz que nasceu ou mora na Rua dos Armazéns, nº 55 casa 26, está a falar de uma “ilha”…e o Porto tem tantas destas ilhas, ainda. Ora, esta morada, acima referida, é exactamente o sítio onde nasci e cresci – na Quinta do Loureiro. Em Miragaia, claro. Pouca gente desta freguesia não saberá onde fica a ilha da Quinta do Loureiro. O que nem tantos saberão é a origem deste nome – Loureiro. Ao longo dos anos, e em pesquisas que faço para as minhas escritas, tenho encontrado as mais diversas versões para este nome, mas a única a que dou credibilidade é à que nasce no Jardineiro-Mor José Marques Loureiro, o “jardineiro das Virtudes” como vulgarmente era conhecido. Este homem, com fama já granjeada na Beira-Alta, veio para o Porto a convite da Câmara da cidade, e deram-lhe a incumbência de criar novos jardins na urbe, melhorar os existentes e fornecer a Câmara e a Corte com as suas belas flores e plantas. Para esse fim, con