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A PELE
Sai da estação de S. Bento e atravessei para as Cardosas: o Astória leva-me até ao passado; o Intercontinental mostra-me a opulência. Como está lindo este quarteirão! A cara lavada e a pele rejuvenescida.
Pele? Claro, porque não!
Tudo o que vimos é pele; tudo o que tocamos é pele. É pela  pele que acudimos os nossos prazeres.
Lembro-me da Nidia, cabeleireira no Brasília, quando um dia lhe pedi para tomar um cimbalino comigo. Ela, mais vermelha que os cromos que punha nos cabelos - nem-sei-que-diga - curiosa: Onde? - Eu sirvo-lho na mesa de cabeceira! Que querida, passou a vermelho húmido. A sua pele já não tinha ouvidos – afogava-se em impulsos.
Já na Rotunda, apetecia-me voltar para trás, arrebatá-la à bata e à mola do cabelo e, ala, até à praia de Leça. Enfim, sem calma nenhuma, tive que optar: para o Bom Sucesso, ou para A Casa da Música. A música, então, era outra. Petisquei um rissol e uma lambreta, no mercado.
Plim-plimpimpim-plim: sms “Quando?”
Já o sol se despedia, e eu, estacionado junto ao Hospital Militar, esperava – à pedreiro – pelas sete da tarde. Lá vinha ela. A Nidia, de gorro e óculos de sol, atrapalhava-se no disfarce, ansiosa por se deixar ir.
Despedi-me da lembrança de Alberto Morávia – Eu e Ele -, treinei a perspicácia.
Nem perguntei como tinha despachado o Alexandre. O momento era nosso, sem objeções negativas.
Galguei a avenida, virei para Matosinhos, e, já na Anémona, leio aquele outdoor “Motel Flamingo”. Deixei escapar, em surdina, “até não é caro”, e logo fisguei a Nidia já em pele de galinha. Não era para menos; eu sentia-me o “lago dos cisnes”. A pele também fala, não guarda segredos.
Logo que a porta da suite se fechou, entre um abraço de línguas e um abraço de peles, sussurrei-lhe: “os nossos umbigos querem brincar”.

Aí Benjamim!

Fernando Morgado

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