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EU ESPERO




Gosto de te ler as palavras mudas na nudez de uma folha onde poderiam estar escritas. Nesta folha onde agora escondo os meus anseios e os meu beijos. Sei que a irás ler, um dia.

No quase abraço que ontem não me deste por relevo de outras opções, senti-te em doce carinho nas teimosas ilusões que os meus sonhos me dão. Fiquei lá, no átrio da estação de S. Bento, na mesma ombreira de sempre. É ali que te espero, nas reticências das palavras que não te disse.

Lembro a última vez em que nos falamos: sorriste da minha matreira adivinhação quando procuravas a tua “Partida”. Corri para a linha 4: 10h45 – Régua. Voltaste a sorrir-me já dentro do comboio que te levaria para Vigo.

Peço ao Google que me traduza “quero ser o espinho da tua rosa”, memorizo – talvez me ouças.

“Vai dar entrada na linha 3 o comboio rápido procedente de Vigo.” Acautelei uma hora no cuidado do habitual “cumprimento de horários”, e esperei.

Senti a tua mão ainda o comboio não tinha chegado. Afagaste-me na quase certeza da tua quase chegada: só te via a ti naquela “máquina” ao sair do túnel. Comboio pequeno, pouca gente: insuficiente para tanta ansiedade!

Quarenta e três, uma a uma, contei-as todas: a última a sair foi a senhora da limpeza que eu já tinha visto no cais antes ainda de o “monstro” frear. Ouvi o teu sorriso nas palavras que te inventei; vi o teu aroma em cada rosto que reconfirmei; tateei os teus passos nos caminhos de todos os passageiros: nenhum sinal para o meu sorriso escondido. Regressei à ilusão.

Junto à “minha” ombreira, um saco abandonado: corri a apanhá-lo. Dentro, um lenço de namorados com um bilhetinho -   Quando olhei, já o comboio partia: Ana!!!!
“Para ti”.

Volto amanhã.



Fernando Morgado

Comentários

  1. Ela não voltou, a esperança não morreu.
    As (des)esperas e as despedidas inundam-me de tristeza ...
    A esperança, a ilusão, um amor saudosista e ternurento, ... habitam neste texto, gostei imenso dele.

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