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“A mulher do próximo”



“A mulher do próximo”

O CÃO

Luísa vivia apavorada com cães, quaisquer que fossem; sempre de olho no caminho que pisava e nos locais onde entrava. Não sabia de onde lhe vinha este desassossego: o seu pai era um apaixonado por qualquer caníd
eo e mesmo o seu irmão sempre lhe infernizou a vida com o simples susto imitando a voz do animal. A mãe, por solidariedade, disfarçava-se em igual a ela. Luísa era incurável.
Talvez por isso tenha desperdiçado algumas “sortes” com namorados; bastava dizerem-se amantes de bichos que ela logo se desfazia de paixões e de outros “ões” que tão carenciada a traziam – ilusões!
Um dia - porque um dia tinha que ser -, resolveu alancar do ninho umbilical para rumar à liberdade: queria estar só com “as suas coisinhas”, vá-se lá saber porquê. Era prendada a rapariga. “Boua” como lhe dizia o segurança lá do Centro de Saúde. Rapaz de corpo ginasiado e carinha de Massimiliano Varrese; “boua tarde menina Luísa”, “boua sorte para si”, “hoje está boua…a tarde.”
De tanto hábito, pensava ela, não foi dando conta dos avanços que o laroca foi fazendo.
Qualquer razão lhe servia para se aproximar dela com as observações mais inverosímeis que a sua “atrapalhação” lhe ditava. Luísa mal percebia ou não dava a entender.
Não era a “santinha de sacristia” que se mostrava, mas antes a ninfa voluptuosa que cercava a presa pelo lado da inocência e da ignorância.
Joel era casado e isso era razão bastante para que Luísa se atrevesse a conjecturar algumas ideias, quiçá um plano, com epicentro nele. Sabia do cuidado que devia à sua posição e, até, à sua carreira. As loucuras também têm hora.
O seu pai, director do Centro de Saúde onde ela trabalhava, era pessoa de muito respeito e admiração, quer por parte dos funcionários quer mesmo dos utentes. Respondia sempre com um encolher de ombros quando o abordavam com o não namoro da sua filha.
“É, vive sozinha, sente-se bem assim, que podemos fazer? Sabe como é, hoje os filhos têm prazo de embalagem. Sarpam ao raiar das ilusões.” O homem juraria, com a cabeça no cepo, a boa conduta da sua filha, a sua Sizinha.
Não lhe passou pelo conhecimento os desvarios dela aquando das férias de Verão, passadas quase sempre com os primos, entre a praia da Agudela e a aldeia de Aboadela, nas fraldas do Marão. Luísa era danada para as “escondidinhas”: usava-as sempre como trunfo na manga. Era o risco, a asneira, que mais prazer lhe dava. Talvez por isso ansiasse tanto pelas férias na aldeia – o primo Miguel, mais crescido e um pouco mais velho que ela, começava bem antes a excitar-se com os dias que passariam em banhos no rio Ovelha. Era um rio calmo, de fraco caudal, e com uma vetusta ponte romana suficiente para os esconder. Foi tanto aquilo que se ensinaram e se aprenderam: brincadeiras “meninas” capazes de arrepiar o avô Moisés.
Aluna de média elevada, sem brilhantismo, tinha, contudo, o senão da matemática. O prof. Anselmo sentia-se o patinho feio daquela turma. Então com a Luísa era ainda mais notório o seu desalento. A rapariga usava outros exercícios de preparação: perdia-se nos olhos do professor, sedenta de os ter só para si. Era jovem, sempre muito bem vestido, cheiroso, umas mãos de apetites, e uma voz “abrunhosa” que lhe reforçava o encantamento. Era casado com a sua professora de Inglês, uma lambisgoia sem nada que a recomendasse. À matreira da aluna ferviam os pensamentos e aumentavam os suspiros. “Tens que me provar”, sentenciava.
Sempre que a professora estava em aula com outra turma, Anselmo mantinha-se pela escola a fazer horas para sair com a esposa. Luísa sabia disso.
Tudo nela era premonição: saia de casa preparada para tudo, principalmente para tudo o que queria. A saia xadrez e blusa branca escondiam um peito pouco coberto por um soutien muito reduzido e apertado (dava-lhe um volume expressivo e tormentoso) e umas “leggings pata de camelo” em azul transparente, que usava só, sem cueca.
Anselmo quase “desmaiava” com a visão improvável da seventeenager a entrar-lhe pela sala adentro, pouco antes de o adentrar.
“Preciso de uma aula extra de álgebra, ou até de números primos. Não vai recusar a minha abertura às suas capacidades!”
O jovem perdeu-se no turbilhão de imagens, gestos, palavras, arrepios, que o inundaram em suor e tesura. “Merda, merda, merda: mostra o que vales”, decisão sôfrega. Estava encurralado e “perdido”: a porta que se podia abrir a qualquer momento; Luísa que o sufocava na aproximação lasciva; a mulher ali, na sala ao lado – e a loucura a sublimá-lo.
Luísa correu para o armário do fundo criando maior distância da porta e alguma invisibilidade a qualquer espreitadela inocente. Ele seguiu-a como a um íman, qual zumbi, apertou-a perdidamente num tic-tac cavalgante e arseniado. Sentiu-lhe a língua bracejante entre os lábios e a inquietação do cinto em libertar-se para lhe dar liberdade e loucura. Ao primeiro botão da sua blusa, caíram-lhe na boca as papilas do seu seio, grossas e húmidas: ela sofria calando os gritos que lhe vinham de tanto prazer.
Louca, loucos, completamente “desplanetados”, derramaram-se naquele chão, em desmando de desejos, então mais escondidos pelas desarrumadas mesas e cadeiras, cedentes à impetuosa volúpia dos dois amantes: arrepiava-se com o barulho destas peças a arrastar – já nada o faria parar! Não lhes saia qualquer palavra, nem eram precisas, tal o arrebatamento das suas urgências – involuntária cumplicidade.
Anselmo não se conteve na sua ansiedade e precipitação; ainda não se desenvencilhara das leggings e já se perdera em humidades sôfregas. Segredou-a com uma promessa, “a próxima é minha”, Luísa calou-o com um beijo de língua como nunca ele tinha sentido. O que iria fazer a este desassossego era uma resposta perdida na sua inquietação.
Ela perdeu umas “leggings” e uma blusa (vítimas de tanto desvario); ele perdeu a fidelidade virgem que o confortou em excesso até à sua incursão.
“Pede boleia à Matilde. Tenho que passar em casa dos meus pais. Encontramo-nos em casa. Beijo.” A professora leu a mensagem e ficou “desprogramada”: “Fuck, então como é? Os teus pais iam para Aveiro passar o dia, temos mesa marcada no “Cochicho”, mau, o que te deu agora?” a cabeça fragmentava-se em dúvidas. O Anselmo era tão “certinho”; alguma coisa teria acontecido.
Luísa sabia bem o que lhe dava mais prazer, mas gozo mesmo era encornar a mulher dos outros. Gostava do pecado, principalmente do sétimo. Já se “babava” de gozo para a aula de Inglês no dia seguinte. “Não gostas de putas? Nem eu! Escolho-os entre elas, as enganadoras da fidelidade.” A ressaca a acordar na sua mente.
Anselmo demorou bastante a chegar a casa: arrumar as ideias, arrumar a roupa, arrumar a mentira; arrumar o corpo.
“Não te queria afligir. Morreu um camarada meu da tropa, coitado, um acidente estúpido, estou desfeito. Amanhã vou ao funeral, até me custa a acreditar!” Patrícia ouviu, crédula, aquela desgraça e subtraiu-se a comentários suspeitosos. Anselmo, o seu Anselmo, era homem de sentimentos. Era tão bom saber que era só dela.
Até o cão, o “xuxas”, se inquietava com as suas demoras, quando aconteciam.
Previdente, desactivou o telemóvel não fosse o “diabo tecê-las”, ou a suspeita vencesse - Patrícia era fuinha. Mesmo assim, ficou órfão daquele ecrã, tantas foram as ansiedades que o atormentaram.
Tal pensamento tal acontecimento: “A próxima é na tua cama” – o desejo vestido de pavor plasmado naquela mensagem que Luísa lhe enviou. Não tinha como fugir: entre querer e querer, a resposta era óbvia, não tinha opção. Ou seja, estava preso na loucura e na perdição.
A sua aluna-professora era divina, meu Deus, como era!, e devia a si mesmo um melhor e mais louco desempenho. Nada lhe cabia no pensamento para além dos filmes e cenários que se atropelavam, uns mais lascivos e sensuais que os outros. Pousado na bomba de arranjar de uma solução, ia pensando nas mais arrojadas fantasias que o levariam ao éden com aquela “bandida”.
“Vais fazer o quê? Aventura de espeleologia na serra de Valongo? Pró que te deu, homem!”
Vestida como polícia, Luísa cumpriu religiosamente (salvo seja) o esquema cumpliciado pelos dois. Identificação do condutor do veículo tal, apanhado em flagrante a utilizar o telemóvel: boa razão para tocar à campainha e subir ao sétimo andar do nº 666 da Rua do Senhor dos Aflitos.
Esperou-a, em taquicardia galopante, para um encontro que temia mas queria, queria perdidamente.
Luísa, mal se apanhou de porta fechada, não se conteve na sofreguidão de uma luta de lábios e de línguas em descarga de ansiedade reciproca. Entre um corrupio de mãos e de beijos, ela conseguiu libertar-se para um strip-tease alucinante. Fugia-lhe pela casa toda para que ele lhe tirasse uma peça a cada vez que a apanhava. Andou assim, neste desaforo, deixando a última peça para ele despir na varanda com vistas soberbas para o Douro e a Foz. O professor também já tinha peças a menos e sofreguidão a mais.
Protegidos pela arquitetura da varanda e pelas plantas que a engalanavam, deram-se sem freio à tudo que o corpo pedia – tão a propósito aquela cama de linho trazida da Bahia -, a todas as impossibilidades entretanto vencidas.
Os seus vinte e oito anos não o diferenciavam dela nas loucuras e nos prazeres. Luísa fez dele o seu Raoul Bova, o italiano que mais a enlouquecia.
Em pequenos gestos de língua, desenhou no seu membro um poema luxuriante, levando-o a um êxtase incontido, enquanto ele se perdia em deleite com a “ostra” carnuda e suculenta que ela lhe ofertava. Era difícil saber qual dos dois sentia maior gozo. Os orgasmos repetiam-se nela dez vezes mais que os dele. As suas peles ferviam num mar de suores e de arrepios.
“Aquela pastilha elástica que ela partilhou comigo deve ser milagreira”, desconfiava ele depois de tanta excitação que não abrandava. “Ainda bem!”
Anselmo deixou a bata caída no hall da entrada. Quando Luísa passou para um duche a dois, reparou numa embalagem que espreitava no bolso da mesma. Não resistiu à curiosidade e surripiou-a de imediato: “CORrige – Creme Retardante / Anestesiante Anal Forte” – para alguma coisa havia de servir.
Abraçaram-se sob água fria que pouco os arrefecia: era abundante, tanto como a lascívia que os sufocava. Partilhavam a espuma com que se massajavam. Luísa prendeu-lhe a mão nos genitais pedindo socorro para o seu clitóris latejante. “Inocentemente”, baixou-se para “apanhar o sabonete” – Anselmo roçou-a com a dureza do seu pénis hirto, de novo. Luísa interrompeu-o abruptamente e, entre dois beijos “calientes” sussurrou-lhe - “pega em mim, assim molhada, e leva-me para a tua cama”.
Para o professor-aluno tudo eram ordens para cumprir. Sorrateiramente, ela passou a mão por sob a toalha e tirou-a fechada sem a mostrar. Anselmo pousou-a na cama com uma imensa ternura, sem saber o que a amante lhe preparava. Na mesa-de-cabeceira uma foto de Patrícia em topless, deitada numa rocha com o mar a desfazer-se em espuma nas suas costas. “Lambisgoia fedorenta, aprende a ser puta. Quero que me vejas a encornar-te!” Assim pensou e, de súbito, pôs-se de quatro virada para a foto, ao mesmo tempo que lhe entregava a dita pomada.
Aquele “eros” tatuado na nádega esquerda indicava-lhe o caminho para mais um orgasmo, já doloroso mas, mesmo assim, explosivo. Ambos venciam ali um fetiche que os perseguia: o ânus como vitória sobre o medo.
Patrícia nunca se ousara a tanto. A amante “mostrava-lhe”, em tesão redobrado, aquilo que ela não sabia nem merecia. “O teu macho é meu, sua frustrada!” – Os olhos de Luísa refulgiam de gozo.
Anselmo tinha-lhe prometido arrumar a casa e deixar a cama feita antes de sair para a “espeleologia” - nada. Estava instalado o caos na sua cabeça.
Passados muitos anos Luísa ainda recorda aquela tarde épica e iniciática em tanto daquilo que aconteceu. Continuou amante do Anselmo durante um longo tempo, entretanto numa casa de pescador, pequena e velha, que ele tinha alugado em Vila Chã. Grandes momentos, grandes loucuras, sempre com uma foto de Patrícia presente para que Luísa consumasse o “encornamento.”
Este fetiche está-lhe tatuado na alma: ainda hoje, solteira e “boa rapariga”, não consuma sexualmente qualquer “affair” sem conhecer a vítima dos seus desvarios. Gosta de ser amante, dá-lhe redobrado prazer, embora selectiva com as suas escolhas. É uma sedutora nata, predadora de qualquer inocência. Que o digam algumas das suas “amigas” a quem “papou” os maridos.
No Centro de Saúde é muito mais cautelosa: a idade (já mais calma); a precaridade profissional; a imagem; a exposição – todos os juízos eram precisos, mas nada lhe proibe os bons momentos em que não tem juízo.
Joel é mais novo que ela – factor favorável -, e tem aquele “toque” italiano que tanto a seduz. O desassossego já se instalou na sua perversão.
“Olá Sra. Doutora, bom dia. Está com muito bom aspecto.” Atrevimento puro e perigoso.
“Como assim? Acha-me tão diferente?” A saia curta que trazia quebrava o “vício” das jeans.
“Não me leve a mal, Doutora, mas os meus olhos perdem-se por coisas boas.” Todo ele era suor. Premonição.
“Ainda me há-de explicar isso melhor. Já agora, o que faz a sua mulher?”
“Está desempregada. Trabalhava na fábrica das agulhas mas…sabe como é, os tempos estão difíceis.”
“Será que ela não quer fazer um part-time aqui, na limpeza do Centro?”
Joel ficou sem palavras, mostrou-lhe o brilho dos seus olhos verde-mar e gesticulou-lhe um beijo que ficou por dar.
Luísa tinha, finalmente, o caminho aberto para o seu fetiche. Com a Ana ocupada e submissa aos horários que ela lhe destinava, Joel ficava mais livre para os tais “trabalhos pequenos” em casa dela, como tantas vezes ele oferecia. Joel não imaginava o tamanho de tantos “trabalhos” a que ela iria recorrer.
Passados uns dias, a Doutora chamou ao seu gabinete a Ana, procurando saber se ela se sentia bem, se gostava de ali trabalhar, e disponibilizando-se para qualquer “ajuda” que a “auxiliar de limpeza” precisasse.
“A senhora é um anjo, não sabe como lhe estou agradecida”.
Era este o momento exato para a sua investida – fetiche louco, como louco iria ficar o “ragazzo” assim que lhe caísse na teia. Uma predadora congénita e na idade ideal – um mulherão - para “sugar” todo o prazer que fosse impossível. A arte quer-se com os artistas: Luísa era diplomada.
Assim que ele chegou, para lhe reparar umas fendas e apertar algumas folgas, logo ela lhe “ordenou” que se pusesse à vontade; ali não era sítio para salamaleques. “Ó doutora é melhor não, ainda pode dar pró torto o trabalho”. Sem delongas, rasgou-lhe a camisa e deixou-se prender naquela montanha de músculos que se escondia dentro dela. Ouviu um sussurro no seu ouvido – “é guerra, é guerra.”
Abriu-lhe a braguilha e tomou posse do membro robusto e viril que lhe requeria liberdade. “Meu Deus, vais dar cabo de mim, mas não te demores. Fode-me como deve ser!” Joel não precisava de livro de instruções. Toda ela era vulva, toda ela o requeria. Olhou-a nos olhos, mel puro, e assertivamente disse-lhe: “Grandes malucos, vamos ser felizes, vamo-nos divertir.” A doutora mal cabia na sua gula. Ainda ele a despia, já ela o masturbava com a sua boca, em movimentos de língua que nada queria desperdiçar. Outros tesões viriam.
Luísa nunca ia adivinhar aquele corpo de aço, aquele domínio que a sublimava, aquelas mãos capazes de o transformar em múltiplos pénis por todo o seu corpo. Joel era o “alter ego” das suas mais arrojadas fantasias. Estava ali, pronto para todos os tesões que fossem urgentes – os seus e os dela. “É desta que eu vou sucumbir, mas ele tem muito que fazer até o conseguir.” Luísa teimava nas suas virtudes e capacidades, sem aceitar a sua fragilidade às ordens dele. Joel era dominador. Pela primeira vez, a doutora perdeu o controlo de si mesma e entregou-se, em lascívia ao rubro, nos braços que tanta segurança lhe transmitiam.
Joel pegou-a pelos glúteos e “encaixou-a” no seu colo; em movimentos erógenos, deliciou-a com o prazer da sua virilidade musculada e possuiu-a num orgasmo a dois que quase a desequilibrava – segurou-se bem firme com as duas mãos nas costas do amante, bem firmes no “pitbull” que ele tinha tatuado no dorso.
Louca, louca, louca, era como se sentia naquele momento, tantas vezes sonhado mas nunca vivido, e tão intenso. A nada se recusou. Joel, embora com aquele corpo másculo e escultural, derretia-se em ternura com a amante, deliciava-a em todos os lábios, partilhava em pele todos os suores que os socorriam. Quando a penetrava tudo nele era roço.
Também ele não estava indiferente à beleza dela, ao corpo soberbo que ela tão bem cuidava, ao “savoir faire” da sua “minete”, como carinhosamente ele passou a chamá-la. Talvez pelo excelso orgasmo com que ela o dessedentou e lhe agitou as papilas gustativas – retribuição justa. Joel não deixou nada por fazer, e tantos foram os “trabalhos” que se seguiram.
“Mademoiselle Minete”, toda sua. Toda em tudo o que ele quisesse. E tudo o que ele quis foi tão bom!
Luísa exultou em autoestima: é mulher plena, vazia de preconceitos, feliz nas fantasias consumadas. Joel mantem-se no caminho dos seus prazeres.
Ainda foi a tempo de encontrar Ana no Centro: quis ver a imagem de mais uma encornada. Ana é uma mulher bonita, com uns peitos soberbos e carnudos, uns glúteos e umas coxas capazes de “levantarem um morto”. Toda ela é sexo. Luísa olhou-a com ironia, “teve que ser!”.
Chamou-a ao gabinete: “Estou muito satisfeita com os seus serviços e a sua disponibilidade.”
“Obrigada, doutora.”
Voltou para casa, ainda mal refeita da tarde tão intensa que tivera, e deteve-se pasmada em frente à sua porta. Nela, uma placa suspensa: “Cuidado com o cão”

Fernando Morgado


NOTA DE APRESENTAÇÃO
Fernando Morgado
Nasci no sítio certo para ser feliz – Porto.
Filho de um polícia e de uma costureira (há tantas estórias assim), fui sempre um aluno médio em todo o ensino que frequentei.
Sou casado, tenho dois filhos, e a minha vida não se faz de arrependimentos: gozo as sobrevivências que me trouxeram até aqui.
Escrevo para respirar, leio para viajar, sou calceteiro de mim.

Não sou muito bom rapaz, embora pense que sim.

Comentários

  1. Libidinoso qb!
    Como romântica melosa que sou, "perturba-me" este tipo de contos, a rudeza da descrição, sem deixar lugar para a imaginação, a personagem mulher perversa, (a) moral, desumanizada, faz-me sentir alguma vergonha da sua (dela e minha) condição feminina ... Retrato de uma realidade que sei que existe, bem descrita mas demasiado "dura" para o meu "universo" ... gosto de sonhar com o sexo ligado ao amor , ligação que sei que nos pode conduzir a um prazer extremo, sem magoar terceiros.

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    1. Tem toda a razão. Este texto foi escrito para um desafio em que o tema puxava a esta narrativa.
      Vai encontrar por aqui este género, noutros textos meus, numa horizontalidade de escrita que me agrada.

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