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A mostrar mensagens de agosto, 2015

Quero

  Quero o que não vem na pele A rima tocada em batuque de beijos O suspiro lavrado entre lábios molhados O dia nascido em surda preguiça E os teus olhos bordados em lenço de namorados  Quero o que não vem nos sonhos Dobrar o canto do sim num bilhete de amor Beijar os teus pés nas ondas de afetos Deixarmos pegadas na praia dos desejos E esperar que a maré nos traga mais fervor Quero o que não vem no meu medo Abraçar-te inteira na nudez dos teus seios Tatuar neles o nosso grande segredo Perder-me feliz nos teus doces enleios E soletrar em dedos este nosso amor.  Quero o que vem Vestir de beijos a tua pele Esconder em nós todos os sonhos Ser feliz na ausência do medo E encontrar-me nos teus lábios risonhos. Fernando Morgado

AMÁSIA ESCOLHEU

Amásia estava cansada:           trabalho           filhos           casa           compras           cozinha           escola           marido talvez, ainda, mulher! Amásia estava mudada:           melancolia           rugas           brancas           celulite           varizes talvez, talvez, mulher! Amásia estava preocupada:           horário           salário           greve           deve           água – luz - tv talvez, por enquanto, possível! Amásia estava atrapalhada:           rouparouparoupa           porquês           tpc’s           treino           e-games talvez, sem querer, a super-mulher! Amásia estava revoltada:           marido desoriarizado           afecto adiado           foto trocada           amo-te alheio           mentira-mentira           verdade escondida talvez, quem sabe, a acabar! Amásia estava assustada:           ameaça           chantagem           álcool           cama solitária  

É mentira.

Quase ainda de cueiros, que é como quem diz já nos encantos das primeiras “humidades”, fui trabalhar. Foi o melhor que me podia acontecer depois do “excelente” aproveitamento escolar que abonava o meu currículo: faltas de presença e disciplinares ultrapassadas; as notas sempre a roçar o “não satisfaz”; o salão de bilhar como sala de aulas; as “gajas” do “Carolina”, sempre a perturbarem-me, passavam por mim com aquele ar altivo de quem não dá conversa a chavalos. Roubava-lhes as curvas e outras saliências para alimentar a minha imaginação, eram os resultados mais significativos de tanta aplicação. Naquela época, não havia tanta preocupação com o trabalho infantil nem eu me ralava com essa alteração de vida. Pelo contrário, senti até algum orgulho perante os meus amigos ainda agarrados aos livros e aos testes. Eu já ganhava dinheiro, já me safava. Os meus irmãos eram os meus melhores parceiros para os meus treinos de bulha; a minha mãe nos ziguezagues e ponto corr

Tudo é branco

A chuva cai como se batesse em mim. Tranco a porta, subo a cortina, reclamamos gotas para o nosso festim. Ah, as folhas, beijam-se e namoram-se, envolvendo-nos em ternura. O café acabado de fazer – acabado de beber - pronto para nos receber. Loucura. Mesmo que digas que sim, eu insistirei em dizer-te… que sim. Lençóis vermelhos, tapete preto, sofá azul tiffany e largo. Olhas. Sorrio. Abraças. Aceito. Sentes. Acaricio. Foges. Prendo. Amo-te. Olhos. Cabelos. Boca. Mãos. Corpo. Cabelos. Mãos. Olhos. Acaricias. Baton. Sinto. Beijos. Talvez. Mãos. Anseios. Não. Abraços. Quero-te. Brincos. Beijos. Camisa. Blusa. Perfume. Brincamos. Corpo. Caicai. Cai. Mamas. Mamilos. Mãos. Sorriso. Calor. Pele. Dor. Tesão. Colo. Eros. Palavras. Flash. Cores mil. Perdidos. Pedidos. Sussurros. Sílabas. Sons. Corpo. Carícias. Figo. Suor. Pele. Agora. Já. Quase. Calças. Saia. Boxers. Fio dental. Corpo. Pés. Trôpegos. Chão. Roupas. Desarrumação. Tesão. Beijos. Mãos. Beijos. Mãos. Bocas. Dedos.

A vida mede-se em marés.

Tanta gente à volta de um corpo inerte. Amélia não tinha espaço para saber o que se passava. Largou-se em lágrimas mudas ao espreitar aquelas “meias” e os sapatos: era o “Zeca dos Pelames”– a tuberculose levou-o. Na Rua das Flores, todos a conheciam mas poucos sabiam da sua vida. O cabelo preso numa mola, a saia coberta por u ma bata já com semanas de uso, os chinelos tão descambados como os pés: Amélia era a sobra dos tempos “melhores” que a vida lhe tinha dado enquanto o seu “Tono Caíco” foi vivo. Levou-o a maré. A Melinha era pau para toda a obra, limpezas e recados, para qualquer amiga(o) no quarteirão “Mouzinho – S.Bento – Flores – S. Domingos”. Era, por assim dizer, a melhor ”estoriadora” daqueles sítios. Morava onde sempre morou, e nasceu: Escadas da Vitória, antigamente paraíso de ratos e lixo, hoje roteiro turístico da “judiaria”. A alegria levou-a o Tono; a ele levou-o a maré. Conhecia como ninguém as andanças daquelas velhas, e sujas, ruas da sua meninic

O trafulha.

Já o conhecia de outras feiras – Vandoma, Passarinhos…- e de outras ocasiões burlescas e comoventes. O Sidério era hábil e cínico. Assim que o ajuntamento o encobrisse, aparecia para o seu laminoso show: o povo calcava-se. A feira do Cerco arrebanhava sempre muita gente. Ele morava ali ao lado, no Lagarteiro, e conhecia bem o terreno que pisava. Duas caixas de madeira, vazias de frutas, eram tudo o que precisava para montar o negócio. Ou até uma caixa de sapatos já vendidos. Três caixinhas e uma bola criavam a fantasia, e a ilusão, de qualquer um poder acertar em qual embalagem estava a redondinha. Por trás, a tenda dos presuntos e salpicões, comparsa estratégico do “mágico”: quando a polícia aparecia, ele abandonava os apetrechos e escondia subtilmente o dinheiro no meio dos fumados e enchidos. O casal charcuteiro mantinha-se imperturbável, como se nada fosse com eles. O Manel só tinha olhos para aquele pedaço de mulher, da sua mulher: atrevida como sempre, fogosa

Já cheguei.

Gosto de gritar sorrisos Que só os teus olhos ouvem Gosto de te ouvir no coração Com as palavras adesivas Que sustentam a minha ilusão Gosto que me ocupes a respiração. Já cheguei. Queres tomar café? Espero por ti. Tenho sorrisos para te gritar. Fernando Morgado

PAZ

Fecho os olhos Ouço os cagarros E a onda que se desfaz Até mesmo a cachoeira No seu dizer de beleza No seu querer navegar. Fecho os olhos Deito-me no silêncio Desta chinfrineira. Aqui estou em paz! Fernando Morgado (...Varadouro, Faial.)

MULHER

Chegas cansada, A máquina parada, O patrão a ferver. O leite e o pão, O filho a chorar, Meu Deus,que aflição! Fralda e agasalho, A criança com febre, Atrasas o trabalho. Recomendas à avó, O João tem dói-dói, Não pode ficar só. Retomas o caminho Em desespero de horário Com asas de estorninho. Finalmente o tear, A obra demorada, Começas a trabalhar. O João está melhor? Ou está a piorar? Também é tua essa dor. O relógio está lento, O coração abater, Maior o teu sofrimento. Pouco comes,não entra! Tens os olhos molhados E o coração em tormenta. Finalmente a sirene. Corres a buscar o João, Levas amor e preocupação. Ah, o miúdo sorri, Está melhoro pequeno. O teu rosto fica sereno. Saco e agasalho, A casa no caminho, Espera-te mais trabalho. Sobes a calçada, Vens apressada, Estás tão cansada! Dás banho ao miúdo, A papa e o sono, Mas isso não é tudo. A roupa e a cozinha, O homem aborrecido, Quer comida e carinho. O apetite não chega

“A mulher do próximo”

“A mulher do próximo” O CÃO Luísa vivia apavorada com cães, quaisquer que fossem; sempre de olho no caminho que pisava e nos locais onde entrava. Não sabia de onde lhe vinha este desassossego: o seu pai era um apaixonado por qualquer caníd eo e mesmo o seu irmão sempre lhe infernizou a vida com o simples susto imitando a voz do animal. A mãe, por solidariedade, disfarçava-se em igual a ela. Luísa era incurável. Talvez por isso tenha desperdiçado algumas “sortes” com namorados; bastava dizerem-se amantes de bichos que ela logo se desfazia de paixões e de outros “ões” que tão carenciada a traziam – ilusões! Um dia - porque um dia tinha que ser -, resolveu alancar do ninho umbilical para rumar à liberdade: queria estar só com “as suas coisinhas”, vá-se lá saber porquê. Era prendada a rapariga. “Boua” como lhe dizia o segurança lá do Centro de Saúde. Rapaz de corpo ginasiado e carinha de Massimiliano Varrese; “boua tarde menina Luísa”, “boua sorte para si”, “hoje e

SÓ TU, BASTA !

Suspendo a respiração para te ouvir a pele Sussurro-te mentiras para te provocar Salivo-te entre gotas de suor veneno Sorvo-te os lábios, abraçamos línguas Sabes-me a mosto em lençol de seda Só tu e o meu desvario nesta loucura sôfrega Somos dois corpos fundidos, até jactantes Sorrisos, abraços, palavras doidas Sentimos a implosão de cada dentro de nós Sémen semente que dizes querer. Supremo êxtase, luxuria e prazer. Saia curta, meias de rede, seios bailantes Sedosa pele, olhos turmalina, lábios em desejo Sábado à noite, como sempre, aqui! Sete da tarde, não te atrases. Só tu sabes que somos amantes Só tu, basta!