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MULHER

















Chegas cansada,
A máquina parada,
O patrão a ferver.
O leite e o pão,
O filho a chorar,
Meu Deus,que aflição!
Fralda e agasalho,
A criança com febre,
Atrasas o trabalho.
Recomendas à avó,
O João tem dói-dói,
Não pode ficar só.
Retomas o caminho
Em desespero de horário
Com asas de estorninho.
Finalmente o tear,
A obra demorada,
Começas a trabalhar.
O João está melhor?
Ou está a piorar?
Também é tua essa dor.
O relógio está lento,
O coração abater,
Maior o teu sofrimento.
Pouco comes,não entra!
Tens os olhos molhados
E o coração em tormenta.
Finalmente a sirene.
Corres a buscar o João,
Levas amor e preocupação.
Ah, o miúdo sorri,
Está melhoro pequeno.
O teu rosto fica sereno.
Saco e agasalho,
A casa no caminho,
Espera-te mais trabalho.
Sobes a calçada,
Vens apressada,
Estás tão cansada!
Dás banho ao miúdo,
A papa e o sono,
Mas isso não é tudo.
A roupa e a cozinha,
O homem aborrecido,
Quer comida e carinho.
O apetite não chega,
O prazer nem pensar,
O descanso vai esperar.
O ferro e a esfregona,
As camas para mudar,
Tens a vida numa fona .
Já lhe ouves o ressono.
Ainda bem!Pensas tu.
Queres o teu corpo sem dono.
Pousas a fadiga na cama
- A tua vida na lama -,
E um homem que reclama.
Amanhã tudo de novo:
Trabalho,dor e aflição.
És o que eles chamam povo.

Estás tão cansada, mulher!
A oito de março, vais ver,
Vão-te mentir, podes crer!

Fernando Morgado












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