Poesia

A histeria chegou aos "bons cidadãos" que gostam de animais de companhia.
É já um dado adquirido que basta ter um cãozinho ao colo, ou um gato a lamber-nos a cara, para sermos tidos como pessoas boas, impolutas, e sem defeitos que nos possam ser apontados.
Não hesitem: querem lavar a cara e as más línguas? Comprem um animal. Digo: comprem! Não vão na cantiga da adopção, pois nunca se sabe o passado do animal, qual o seu pedigree, e a rafeirice dos amigos que, até aí, o acompanharam.
É garantido um efeito imediato junto daqueles que, não conhecendo nada de nós, passam a julgar-nos pessoas carinhosas, porque "até gostamos de animais".
Mesmo aqueles que têm problemas com as Finanças - com prejuízo para toda a comunidade - passam incólumes por entre o crivo das maledicências.
Um animal ao colo - atenção: sejam criteriosos com a raça e respectiva linhagem - é suficiente para esconder outros problemas familiares ou, até, empresariais.
Ter um animal de companhia é ter estatuto superior, capaz de autorizar a julgamentos primários e, até, o direito à excomunhão.
Ninguém, de bom senso, será capaz de nos apontar o dedo, muito menos a difamação ou a injúria.
Esqueçam a caridade, a solidariedade, a bondade, a partilha, a compreensão, e outras mariquices que saíram de moda: ter um cão ou um gato está a cima de tudo e de todos. E ainda bem!
Os animais merecem tudo.
É por isso que eu gosto dos humanos: são uma raça rara, difícil de encontrar, e que vivem em comunhão com os seus pares - humanos como eles!
Sempre que os vossos animaizinhos rechonchudos e meigos forem maltratados por uma qualquer criatura que se diz veterinário, não descansem: desanquem a torto e a direito - sim, porque é de direitos que estamos a falar.
Contudo, não se distraiam: pode um dia acontecer o mesmo com qualquer um de nós ou com um filho nosso. Bom, mas nessa altura - está bom de ver - teremos sempre a opção de julgar o/a dona do rafeiro ou do trinca-espinhas como pessoa que é maldosa e malcriada.
Queridos amigos dos animais: associem-se ao movimento "aparvoiceéumdom" e façam desta causa o desígnio maior para a salvação dos animais: A CADA UM O SEU ANIMAL!
Eu faço a minha parte: adoro os humanos - são giros e gostam de mimos!

Fernando Morgado.