Poema que um pai escreveu e enviou para um filho que não vê há 30 anos.
A Ana, a mais simpática de todas,
diz-me que ainda é tempo para nos voltarmos a ver.
Lembro-me da tua partida.
Deixaste tudo por uma paixão.
Querias viver.
Outras paixões deixaste, ainda mais intensas pela tua ausência.
Aquela despedida! Aquela despedida doeu muito!
A juventude não te deu amarras, nada te prendeu.
pensaste em ti.
Agora, assim a rapariga tenha razão,
vais encontrar-me igual – preso em ti.
Descansa, estou institucionalizado
- à tua espera há já longos anos.
A tua mãe levou com ela as orações que te imploravam.
Fiquei só...com esperança.
Os teus irmãos, que tanto te amavam,
foram ao encontro dela. Fiquei só...contigo.
Quero partir.
Não fosses tu e a esperança de ti,
não ouviria mais a rapariga acalmar-me
com loas de que te conhece e sabe que me vens ver.
Trás aquela blusa de linho que te dei quando fizeste trinta anos.
E trás amor para eu te reconhecer.
A minha mobilidade já é reduzida.
Sabes o meu nome? Continuam a chamar-me “alferes”.
Não demores.
Mantenho a mobilidade dos braços para te aconchegar.
A Ana chama-me avozinho.
Fernando Morgado
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